Crianças x Celular. Qual o limite?

Quem nos tempos de hoje, viveria sem seu smartphone? Uma tecnologia sedutora, que organiza a nossa vida inteira em uma tela, tomou um...

Quem nos tempos de hoje, viveria sem seu smartphone?

Uma tecnologia sedutora, que organiza a nossa vida inteira em uma tela, tomou um grande espaço em nossa rotina e nos auxilia na realização de infinitas atividades profissionais e pessoais. Como meio mais prático de acesso a informação e comunicação, o aparelho se tornou tão essencial ao dia a dia das pessoas que chegou a ultrapassar a própria humanidade em número. É o que mostra um levantamento realizado pelo Bank My Cell, no qual se apurou que, só em 2015, já existiam mais de 8 bilhões de celulares no planeta.

Se é difícil para quem cresceu vivendo em um mundo sem smartphones, imagine para as crianças que se acostumaram às telas desde pequenininhas. Muitos pais têm dificuldades para controlar o tempo que os filhos passam usando os aparelhos eletrônicos.

O acesso precoce aos dispositivos preocupa pais e especialistas e surgem alguns questionamentos:

É tranquilo deixar as crianças terem acesso aos aparelhos?

Por quanto tempo?

E que problemas isso pode causar?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um guia direcionado ao combate do sedentarismo infantil e que fornece orientações e recomendações para equilibrar o uso desses equipamentos com crianças.

Crianças até 01 ano – Sem contato com telas
Crianças de 02 a 05 anos – 1h / dia
(Jogos e brincadeiras que estimulem o desenvolvimento das crianças)

É na primeira infância, dos 0 aos 6 anos que a criança descobre o mundo através das relações que ela tem com o ambiente e das interações sociais com outras pessoas e com outras crianças.

O uso dos aparelhos eletrônicos reduz a interação da criança com outras pessoas e aumenta o risco de obesidade, ansiedade e depressão infantil. Além disso, os estímulos que ela precisa nessa fase para desenvolvimento de habilidades motoras e cognitivas essenciais, tornam-se limitados podendo comprometer seu desempenho em diversas tarefas futuras.

Trata-se de um problema que afeta o mundo inteiro e sabemos que muitas vezes, essa dependência parte dos adultos, que também têm dificuldade em controlar o uso.

Um estudo da Unifesp feito em 2014 pela psicóloga Fernanda Davidoff com 264 estudantes paulistanos dá uma ideia do nível de abuso. A pesquisa revelou que 65% deles dormem pouco para continuar logados, 51% acessam a internet enquanto almoçam ou jantam e 33% usam os dispositivos até no banheiro. Segundo os especialistas, a dependência digital pode levar a outros distúrbios, como ansiedade, depressão e até uso de entorpecentes no futuro.

Vários sintomas claros aparecem quando a situação começa a sair do controle. Os jovens passam a se descuidar dos estudos e ficam extremamente irritados se alguém tenta pôr limites, entre outras coisas. Com um acompanhamento terapêutico, em parceria com os pais, é possível reverter o problema. São utilizadas estratégias para ampliar a prática de outras atividades e são incluídos reforços positivos, como elogios em casa e passeios em família.

A escritora britânica Tanya Goodin está preocupada com o fenômeno há tempos. Ela se denomina “Expert em Detox Digital” e acaba de lançar um livro, chamado Stop Staring at Screens (literalmente “Pare de Encarar Telas”). E ela dá dicas práticas para ajudar pais e mães que não sabem direito como lidar com o assunto.

1 – Seja um modelo de hábitos saudáveis

“Tudo começa com você. Seu sucesso em tirar as crianças da frente das telas está diretamente relacionado ao tempo que você passa olhando para elas. Assuma um olhar crítico sobre seus próprios hábitos e os controle primeiro”.

2 – Foque em momentos e lugares

“É mais fácil encontrar exceções para regras complicadas. Associe o ‘tempo de tela’ a momentos específicos do dia, assim como a cômodos específicos de casa, e então vai ser mais fácil aplica-los. ‘Sem telas antes do café da manhã’ e ‘Sem telas no quarto durante a noite’ são duas boas maneiras de começar”.

3 – Estabeleça consequências

“Deixe claro desde o início quais serão as consequências para quem quebrar as regras e se prepare para cumprir com o que prometer. Se as consequências forem desproporcionais, ou aplicadas de forma inconsistente, você pode dar tchau ao cumprimento das regras”.

4 – Explique os truques viciantes da tecnologia

“Tome algum tempo para explicar às crianças como os programas que elas usam são programados para prende-las e faze-las voltar para mais. Notificações e prêmios imprevisíveis são exemplos disso. Leia sobre Tecnologia Viciante e discuta isso em família. Crianças mais velhas certamente vão se interessar, e isso vai torna-las mais conscientes das armadilhas em que elas podem cair”.

5 – Desgrude

“Uma caixa, cesta ou um local central para deixar todos os aparelhos são ótimas maneiras de desgrudar dos smartphones em casa e focar em outras coisas. Algumas famílias até pedem que as visitas deixem os próprios dispositivos ao entrar em suas casas – por que não tentar isso também?”.

6 – Torne as pausas mais divertidas

“Transforme as pausas no uso de aparelhos em pausas para a natureza: leve as crianças para o ar livre por intervalos regulares depois de elas passarem um tempo mexendo nos aparelhos – 15 minutos para cada hora em frente às telas é minha regra.

Pegue dicas com a própria tecnologia e crie jogos para as crianças mais novas, como desenhar circuitos em jardins ou percursos com obstáculos para entretê-los durante as pausas, mantendo quadros com pontuações e desafios completados”.

7 – Só uma tela

“Assistir TV enquanto rola a tela de uma rede social ou lê mensagens é uma atividade comum em sofás de famílias por aí. Controle o hábito das multi-telas com uma regra para que só uma seja usada de cada vez. Isso pode até reestabelecer a diversão de assistir TV em família, já que todos vão estar focados na mesma coisa”.

8 – Ofereça alternativas atraentes

“Às vezes a melhor abordagem é deixar as crianças sentirem o tédio que pode vir caso elas fiquem sem os aparelhos, para que elas encontrem suas próprias soluções para se entreter. Mas oferecer alternativas atraentes pode ajuda-las a ter um impulso criativo. Organize atividades livres de telas que você sabe que elas vão gostar (fazer bolos, jogar paintball ou nadar, por exemplo), para lembrar a elas que existe um mundo enorme longe dos dispositivos eletrônicos”.

9 – Mantenha a calma

“Gritar só vai inflamar situações delicadas e atrapalhar todo o trabalho que você já teve. Respire fundo dez vezes antes de confrontar situações que te incomodem e tente falar sobre elas da maneira mais calma possível, explicando o que precisa mudar. Encoraje as crianças a também se comunicar calmamente sobre o que elas sentem e vocês terão uma chance de encontrar alternativas”.

10 – Proíba as telas ‘cara a cara’

“Uma das principais perdas que a tecnologia traz é a diminuição do tempo que você passa conversando com as crianças – e vice-versa. Crie uma regra para estabelecer que, quando dois membros da família estiverem sozinhos um com o outro, os dispositivos estejam sempre longe e fora do campo de visão.

Se reconectar uns aos outros é parte do prazer de se desplugar, então não foque apenas no que se perde ao deixar as telas de lado, mas principalmente no que se ganha”.

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